Este texto de Shakespeare deixa-me
a pensar sobre a turbulenta fase da adolescência, em que, supostamente, mais se
aprende sobre nós mesmos e o mundo em que vivemos. Idade, sem dúvida, que não
significa maturidade. Por muitas vezes, temos tanta pressa de crescer e chegar
onde ainda não estamos. Adiamos constantemente o que e quem poderíamos ser
hoje, pensando que essa capacidade não está ainda ao nosso alcance. Quando que,
na verdade, tudo depende de nós mesmos. A maturidade, tal como a nossa
personalidade, depende das experiências por que passamos e como deixamo-nos
afetar por estas.
Nesta fase tão sensível das nossas vidas, dificilmente
reconhecemos amor ou sabemos como amar. Estamos tão carentes por reconhecimento
e atenção, que em vez de apreciar a outra pessoa por ela ser quem é, nós
procuramo-nos nela. Preocupamo-nos com o que temos a dar e no que estamos a
receber, sem levar em conta sequer os desejos e necessidades do parceiro. E
achar que as pessoas por quem nos rodeamos estão lá para nos satisfazer e
contribuir para a nossa felicidade, sem que nós tenhamos de retribuir de alguma
forma. Isso deve-se muito ao amor incondicional que os nossos pais nos
demonstram, em geral. Como não precisamos fazer nada de extraordinário para
eles nos amarem ou como é da sua responsabilidade cuidar de nós, ajudar-nos e
certificar-se de que somos felizes, sem termos que fazer o mesmo por eles. Mas
tal não acontece em todas as restantes relações que construímos na vida, como
amizades e romances. Essas pessoas têm essas mesmas necessidades de amor
incondicional como nós e é, por isso, essencial contentarem-se a vez pelas carências
uma da outra, aprendendo a dar com prazer, sem esperar receber de volta, a pôr
os desejos de outros a frente dos nossos e a valorizar a felicidade dos outros
no lugar da nossa, por vezes. Apenas com isto, conseguimos construir verdadeiras
relações com outros, com significado e valor para nós. E com os outros que
aprendemos mais sobre nós mesmos e como funcionam as relações humanas. Através
de diversos relacionamentos, aprendemos sobre confiança, perdão, expectativas, moral,
companheirismo, conexão emocional, intelectual ou física. E que todas estas
diferentes experiências serão cruciais para fazer de nós quem somos e seremos no
futuro, e, que, por isso, são todas, a sua maneira, importantes.
Poucas são as pessoas ou os momentos em que nos
apercebemos do quão livres realmente somos. Livres para sermos quem e o que
quisermos, onde e como quisermos. E que é nesta vida e em um dia de cada vez
que temos de aproveitar essas escolhas que fazemos. Vida esta, que pode parecer
tão comprida ou tão curta quanto nós achamos ela ser, dependentemente de como
lidamos com as nossas perceções e expectativas, consequências de decisões e paciência
de as esperar. Por isso, é crucial entendermos como somos todos diferentes, com
formas diferentes de lidar com as situações que a vida nos atira, e a respeitar
e apreciar isso, porque nós esperamos e desejamos essa mesma compaixão dos
outros quando lidarem connosco. Assim como é importante ganharmos noção de que
não somos os únicos, não estamos sozinhos a passar por certas coisas, e, por
isso mesmo, não merecemos tratamento excecional do universo. E assim, só
podemos aproveitar o que temos e somos, no seu devido tempo, pois tudo sempre
muda, se assim o quisermos. Maturidade vai, portanto, muito além de números e anos,
e é sim uma perceção da realidade da vida e dos nossos valores e controlo de
atitude sobre esta que cada um de nós tem.